Hazenclever Lopes Cançado, presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), criticou a proibição de seus licenciados operarem em todo o Brasil em meio à “concorrência desleal” de empresas sediadas em paraísos fiscais.
No início deste mês, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, aprovou uma decisão liminar proibindo os licenciados da Loterj de operar em todo o Brasil, ao mesmo tempo que determinou o uso de rastreamento de geolocalização para garantir que eles só pudessem aceitar apostas dentro das fronteiras do estado do Rio de Janeiro.
O recurso da Loterj contra a decisão foi rejeitado em 7 de janeiro, com Mendonça alegando que a refutação do regulador estadual se resumia a “mero desacordo com a decisão recorrida”.
Cançado acredita que as ações do STF colocam em risco a estabilidade do mercado authorized de apostas no Brasil, lançado em 1º de janeiro.
“A insegurança jurídica nas apostas brasileiras expõe fragilidades jurídicas, concorrência desleal e burocracia que atrapalha o mercado e prejudica a economia”, escreveu Cançado em artigo para Migalhas.
“A concorrência desleal no mercado de apostas no Brasil assombra o empreendedorismo, fragiliza a economia nacional e conta com o apoio não só da informalidade [illegal] operadores, mas da própria administração pública, que fomenta sistematicamente a insegurança jurídica e, assim, incentiva a clandestinidade.”
Qual é o argumento da Loterj?
O motivo do recurso da Loterj foi a percepção da existência de “defeitos, omissões, obscuridades e erros materiais” na decisão de Mendonça. A decisão poderia causar uma queda nas receitas fiscais do estado e perturbar o setor de apostas licenciadas do Brasil, argumentou.
A Loterj também reclama que o rastreamento obrigatório por geolocalização só foi criado pela Lei nº 14.790 em dezembro de 2023, aproximadamente seis meses após a publicação do Edital de Credenciamento 01/2023 da Loterj.
O Edital de Credenciamento da Loterj estabelecia que bastava a “declaração e consentimento expresso do apostador” para que as apostas fossem consideradas realizadas dentro das fronteiras do estado do Rio de Janeiro.
O regulador estadual afirma que Mendonça foi “induzido ao erro pelo sindicato”, sem nenhuma exigência pré-existente para que os licenciados da Loterj utilizassem tecnologia de geolocalização.
“Ou seja, por óbvia lógica e simetria do sistema, os atos passados da Loterj, regidos pelo seu Edital de Credenciamento 01/2023, por serem anteriores ao ato do poder executivo, que não previa quaisquer restrições territoriais, deveriam ser protegidos , certo?” Cançado disse.
“Bom, não é isso que pensa o governo brasileiro, que mais uma vez age contra os valores sociais da livre iniciativa que sustentaram a legalização das apostas no Brasil.”
Ameaça de excesso de regulamentação no Brasil
As operadoras licenciadas pela Loterj contribuíram com mais de R$ 100 milhões (£ 13,3 milhões/€ 15,8 milhões/US$ 16,1 milhões) para o governo federal em impostos.
Loterj acredita que essas contribuições estaduais serão ameaçadas pela decisão do STF, bem como pela presença de empresas sediadas em paraísos fiscais e que atuam no mercado de apostas brasileiro.
Existem atualmente 14 empresas com licença plena para operar no Brasil, além de outras 54 com autorização provisória. Esses operadores têm 30 dias para garantir que aspectos como a certificação completa dos sistemas de apostas sejam realizados.
“O próprio sindicato, valendo-se do criacionismo e da sua própria maldade, com o aval do judiciário, proporciona um ambiente verdadeiramente hostil às apostas legalizadas, especialmente porque torna as regras mais rígidas para quem está dentro do país, enquanto inúmeros atores baseados em paraísos fiscais e em A China, imune à legislação brasileira, continua operando sem se submeter às mesmas condições competitivas, operando livremente no país sem arrecadar tributos federais, estaduais e municipais, representando até mesmo evasão fiscal”, acrescentou Cançado.
Na visão da Loterj, esse “cenário desigual de desconfiança e insegurança” será o mais prejudicial aos apostadores no Brasil. Se o excesso de regulamentação continuar, poderá levar tanto os intervenientes como os operadores para o mercado negro.